sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Para minha mãe

Hoje eu acordei banhada nas minhas próprias lágrimas.
Invadida por uma sensação que não era só ruim.
Estava pensando na minha mãe, com uma saudade ao mesmo tempo dolorida e benvinda...
Sei que parece estranho, mas é assim a saudade que a gente sente de pessoas muito queridas, que já se foram há muito tempo.

Dos primeiros meses logo depois de sua morte, nem me lembro, é só um branco de dor e angústia e o tempo e os acontecimentos passando por mim, sem deixar nenhuma marca impressa.
Depois, vem a necessidade de retomar a vida, voltar a trabalhar e a encarar as pessoas, sem entender direito o que está acontecendo, acompanhada de uma certa surpresa do mundo não ter parado de girar por causa da minha dor. Então, as coisas vão lentamente voltando para o lugar e vem a surpresa de conseguir se envolver na rotina novamente. Ainda me lembro da sensação de ter passado um dia quase inteiro sem ter pensado nela.... tive medo! medo de esquecer do seu rosto, do seu sorriso, do seu jeito.... Eu dizia na terapia: "estou com medo de estar esquecendo dela", com um jeito meio culpado... E a Bia dizia: "precisa ser assim, para podermos retomar a vida, não dá para lembrar o tempo todo, porque senão a vida para."

De repente, os anos passam sem a gente se dar conta do tanto de tempo. Anos passaram: alguns dias mais difíceis, outros nem tanto, outros até bem alegres e cheios de vida de novo.
É nessa fase que, em geral, a saudade vai deixando de ser só dolorida... Me pego com uma saudade gostosa, de lembrar de momentos alegres, do jeito dela, da carinha dela, do trabalho que eu dei para ela. Essa saudade é super benvinda; é muito bom pensar nela e até falar dela, para as pessoas que hoje fazem parte da minha vida e que não a conheceram.

Hoje, quando acordei, estava angustiada, dolorida, com saudades. Essa coisa de Natal e família mexem muito com a gente, até com gente que como eu, não teve a felicidade e o alívio de partilhar de crenças que trazem conforto.
Eu estava pensando que eu queria que ela visse a mulher que eu me tornei, e que ela tivesse orgulho de mim e dela, por ter feito um trabalho tão bem feito.
É muito ruim não poder agradecer a ela, o muito do que sou hoje, e de dizer que ela é meu espelho e minha inspiração, no meu trabalho e no modo como cuido das minhas relações.

Não é a melhor fase da minha vida, essa... Algumas coisas estão muito difíceis de processar e de entender e de desapegar....
Acordei, banhada em lágrimas, com vontade de deitar no colo dela, para que ela pudesse pentear meus cabelos e dizer aquelas coisas certas e confortantes que só ela sabia dizer....

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Vida Estranha

A vida, às vezes, fica muito esquisita....
Hoje terminei o consultório mais cedo... eba!!!! Vou para casa e.... vou fazer o que mesmo em casa?

Chego. Ligo a TV. Seriados policiais me entorpecem.... a vida deles é bem mais esquisita do que a minha.... tenho que fazer relatório (argh!).... mais seridaods bestas, babando na frente da TV....

Queria que alguém me ligasse.... Mas eu moro em Fortaleza! Interurbano é foda! Queria que alguém me chamasse no msn.... estou offline, todo mundo pensa que eu estou trabalhando.....

Alguém chama mesmo assim.... mas ela também está off.... e me chamou.... que estranho!

Fica mais estranho.... ela me conta que está grávida e mais ou menos feliz, porque na verdade, ela tinha sido atropelada e tinha passado maus bocados e agora saiu da morte para a vida!!!!!!

Meu Deus, para o mundo que eu quero descer, eu não quero mais brincar disso.....

Meu mundo virou de ponta cabeça e do avesso ao mesmo tempo. As pessoas não sabem mais das outras pessoas, tá todo mundo muito envolvido com o próprio umbigo.... inclusive eu, que tava só pensando que não queria corrigir teste e nem fazer relatório e que meu dia seria mais feliz se ELE mandasse notícias....

Eu gosto das minhas amigas e sinto uma falta cruel de todo mundo.... meu coração tá apertado (e agora encharcado de cerveja)... e o que tinha importância brutal há três horas atrás, acabou de esvaziar e se perder....

Aqui estou eu, separada pelo interurbano, pela distância e pela correria da rotina que engole e anuvia a importância das relações.....

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Insatisfação Crônica

É dificil só passar pelas coisas. A vontade é de viver intensamente, buscar respostas inexistentes, superar o previsível. Mas viver, é com os outros, e nem sempre o outro está no mesmo pique.... quase nunca, na verdade. As pessoas buscam a plenitude da felicidade duradoura e eu, gosto de pequenos e intensos momentos. E pulo de um para o outro... só que entre eles há o vazio.... o oco.... o buraco.

Não consigo me acomodar numa só situação, achando que isso é o presente suficiente. Insatisfação crônica, nas palavras de María Elena.
Algumas pessoas querem mais paixão, mais brilho nos olhos de admiração, mais tesão.
Outras pessoas querem segurança, proteção, estabilidade e o que chamam de amor.

Eu preciso de chocolate Talento vermelho, um aquário de Alpinos e amigas psicólogas (ou quase) para conversar noite a dentro, tomando cerveja ou champagne. Conversas que começam episódicas, com: daí eu disse, daí ele disse.... e terminam semânticas como: aí eu pensei e eu acho que ele pensou.... e se não pensou deveria ter pensado.... não é possível que ele não tenha pensado.... se não pensou deve ter sentido.... mas não falou!

Para no fim da noite, bêbada de cerveja e de pensamentos compartilhados concluir que : Eu queria duas olheiras bem formadas, olhar caído igual ao do antigo ford K, uns cabelinhos para poder puxar e um jeito de Calvin, em 1,80 metro de altura.

Então é isso. Eu gosto de legendas!

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Floresta de Asteriscos


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Esse fim de semana fui de novo para Guajiru, que é uma aldeia de pescadores na praia da costa do sol poente, aqui no Ceará. O lugar é lindo: praia, dunas, sol e mar.
Na estrada, um pouquinho depois de sair de Fortaleza, você já vê, nas laterais, as florestas de carnaúbas. Vocês conhecem a árvore da carnaúba? É uma das coisas mais fofas da vida. Parece uma palmeira, ou um coqueiro, mas as folhas parecem cabelinhos espetados na forma de um asterisco.
No caminho, saindo da cidade, deixando para trás trabalho, problemas, contas a pagar, solidão, já começa uma espécie de alívio. Chegando nas florestas, é a hora em que já estou no clima viagem, sabe, cantando alto (desta vez Camille), dirigindo e dançando, pensando no mar.
Quando vi o primeiro asterisco (ops.... carnaúba) pensei no significado dele (asterisco), que é aquele aviso de preciso explicar isso melhor, não posso esquecer, disso.....
E aí, comecei a viajar.... e se cada carnaúba daquela foi plantada cada vez que alguém pensou em deixar para depois uma explicação melhor, ou assinalou que não podia esquecer de alguma coisa importante.... e a floresta de asteriscos ficou ainda mais interessante....
E comecei a pensar na minha floresta de carnaúbas particular e me dei conta de que ando assinalando muitos asteriscos!!!
Preciso ir mais vezes para Guajiru.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

A noite todos os gatos são pardos

De novo, no meio da madrugada, angústia e ansiedade tiram meu sono e minha capacidade de dormir.
Tento me distrair, pego um livro e leio compulsivamente, Mergulho em uma história que não é a minha. Me envolvo e me esqueço.
E naquele frágil momento em que o sono parece que vai me pegar, olhos cansados e quase embarcando.... o medo, o coração dispara num galope alucinado, o calafrio, o suor frio no corpo quente e pronto.... impossível dormir.
A sensação de vazio na boca do estômago, o vazio da alma, os gremilins invadiram e a paz me abandonou.
Pensamentos que passam a milhão, sem tempo de elaboração. Eles são cruéis e frios, insensíveis à dor da minha solidão.
Lembranças, saudades, remorsos... tudo misturado num turbilhão de pensamentos.
Levanto, fumo um cigarro, olho para o livro há pouco abandonado em cima da cama. Não dá para retomá-lo. Minha concentração foi roubada e estou mergulhada de novo na minha própria história.
Mais uma noite de torcida para a chegada da manhã, quando as coisas voltam a ter uma perspectiva mais correta, mais justa.
Amanhã vai ser um dia difícil!

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A Viagem

Aqui estou eu, sozinha...
Voltei para a terapia, e apesar de achar que ninguém mais me entenderia como a Bia, achei alguma possibilidade nova. Não do mesmo jeito. Diferente, mas de um jeito novo, que aponta para um caminho que parece que vai ser legal. Um novo olhar sobre a minha confusão.
Hoje aprendi um jeito novo de chamar o mundo das idéias, mais poético: uma retirada narcísica, erotizada. Uau!!!
Enfim, meu mundo das idéias continua povoadíssimo, e de tão povoado, está começando a ficar um pouco opressor também.
A opção pela solidão, aquela que parecia tão acertada naquele momento da vida, começou a ficar pesada, e anda me roubando algumas oportunidades.
Ninguém nasceu para viver sozinho e certamente não eu.
Mas ela se torna mais e mais confortável, porque conhecida?
Está cada vez mais difícil deixar alguém entrar e quando deixo..... abandono, certamente ele vem logo em seguida.
Enquanto isso, mais e mais roubadas.... a busca intensa pelo conflito, pela confusão, pelo indescritível.
O amor, a paixão, a companhia, a cumplicidade e busca e busca e busca....
Os fantasmas voltam, só para dizerem que existem e nada mais
A angústia, velha amiga, velha companheira
O trabalho, como dado de realidade, mas que também começa a ter cara de fraude, de incompetência
A irritação com as pequenezas, como são irritantes as pequenezas...
A perspectiva: a viagem... o mundo.... a amplitude... o poder ser mais, sair das pequenezas e enfrentar o tamanho do mundo, dos sonhos, das possibilidades
Pelo menos é uma briga que vale a pena.
Não, eu não deixo ninguém mais entrar.
Mas a perspectiva de ficar sozinha para sempre é assustadora... não mais amores, não mais paixões, não mais companhia, não mais amigos
É bem pouco inteligente isso...
E a busca, sempre a busca, o amor pelo processo, quando na verdade o que me completa é o outro
Na solidão fica faltando um pedaço, como já dizia o Djavan
E não é que o pedaço que falta que é o melhor pedaço? quase sempre...
O se enxergar no olhar de admiração do outro, cara, como isso faz falta!
A gente cansa do nosso próprio olhar
“Eu detesto quem me rouba a solidão, sem em troca me oferecer verdadeira companhia”
eu continuo detestando
Mas anseio cada vez mais por verdadeira companhia
Onde?
Na viagem?
Praga Budapeste Madri, onde?
Espírito livre, cidadão do mundo
O mundo
Será que diante do mundo, meu mundo se apequena? E se aquieta?
E se ele se perder?
Que alívio.... se ele se perder um pouco e eu encontrar a paz...
Tudo isso para fugir do que dessa vez?
Parece que quanto mais eu fujo, mais perto do objeto da fuga eu me encontro.
Me perder no mundo
Me perder do mundo
Me achar no mundo
Qual é o meu lugar?
Todo mundo tem seu lugar
O mundo tem seu lugar
Qual é o meu lugar?
Quem está no meu lugar?
As palavras
Retirada narcísica erotizada
Preciso sair de mim
Os fantasmas sempre voltam, só para dizer que continuam ali....

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

selfish

Eu queria te falar mais de mim
Eu queria te mostrar mais de mim
Eu queria mais tempo
Para te mostrar mais os meus defeitos
E, ao mesmo tempo,
Te mostrar mais das minhas qualidades
Eu queria mais tempo
Para te acolher, te cuidar
Eu queria mais tempo para te fazer massagens nos pés
Para ter mais iniciativa
Eu queria
Eu queria poder te conhecer mais
Saber mais das suas necessidades e das suas carências
Eu queria te mostrar mais
Eu queria menos elementos para sonhar
E mais elementos para ter saudades
Eu queria poder lembrar do seu rosto
Porque do seu jeito eu lembro bem
Eu queria poder não ter mergulhado
E eu queria poder ir ainda mais fundo
Eu não queria desperdiçar essa oportunidade
Mas eu queria não ter essa culpa
Eu queria
Eu queria que o mundo fosse menor
Mas eu queria poder fantasiar ainda mais
Eu queria que a distância pudesse ser só subjetiva
E que a realidade pudesse ser enganada
Eu queria minha cama povoada sem sentir solidão
Eu queria que as coisas fossem menos complexas
E ainda assim, achar beleza na simplicidade
Eu queria
Eu queria poder me controlar mais
E eu queria poder me entregar mais
Porque o entremeio é bem dolorido
Eu queria saber mais de tudo isso
E eu queria entender menos do que eu já sei
Conflitos são essenciais e doloridos
Gosto deles
Mas eu queria ter menos deles
Ou ao menos poder não buscá-los o tempo todo
Gosto mais de mim assim... mais viva
Sou uma pessoa melhor assim....
Mas, com certeza, mais ansiosa
Mais em movimento, menos estática,
Disponível para rever paradigmas cristalizados
Mas, com custo de muito mais sofrimento
Sem arrependimentos...